A descoberta em 2008 de uma estátua-menir gravada durante a Idade do Bronze com um ancoriforme e outros símbolos, em Corgas, no concelho do Fundão (Banha et al. 2009) é o ponto de partida para uma síntese sobre a investigação dedicada a este símbolo relacionado com o mundo do Bronze do Sudoeste, e para uma reflexão sobre os seus possíveis significados e sobre a sua estranha presença em latitudes tão afastadas do seu local de origem e sobre a sua apropriação por gentes de territórios longínquos.
Seria fácil justificar a presença deste elemento na Beira Interior recorrendo à imaginação e colocando um viajante da Idade do Bronze a percorrer uma imensa rota de transumância até aos campos do Sul, através da qual se processariam variadas relações de interação, desde trocas comerciais, à transmissão de ideias e todo o tipo de intercâmbios, e a partir das quais um símbolo gravado em lajes fincadas no solo pelas planícies do Alentejo seria observado por um qualquer curioso viajante, que o apreenderia transportando-o na sua mente no regresso a casa onde o procuraria reproduzir, tal como dele se lembrava. Também não seria de todo improvável colocar no centro da história um indivíduo a fazer o percurso contrário, desde a sua terra a Sul, até à Beira Interior, trazendo na sua memória um elemento identitário da comunidade a que pertencia e materializando-o em pedra para afirmar a sua ligação a uma comunidade distante num novo território.
A ficção explicaria muito melhor a realidade do que a arqueologia com as suas imensas limitações na interpretação do passado. Os dados disponíveis não nos permitem compreender plenamente como se justifica a presença de um símbolo claramente vinculado às comunidades do Bronze do Sudoeste, oriundo das terras do Sul para ser gravado num menir pré-histórico 300 km para Norte!
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