O presente artigo analisa o uso inovador dos sentidos do ofato e do paladar nos Epigramas de Marcial, assinalando o modo como o autor consegue superar os limites da escrita, convidando os leitores a interagirem visceralmente com a sua obra. Ao associar determinados odores e sabores a uma dada classe social, a um valor moral ou perfil individual, Marcial constrói um mapa sensorial da sociedade romana.
A nossa análise detém-se sobre o modo como o epigramista se mune de uma série de técnicas, a começar pela evocação dos quatro sentidos, para retratar a imoralidade e as classes sociais mais baixas até ao emprego satírico da coprofagia, com o objetivo de condenar os excessos cometidos pelas elites romanas. Através destas experiências sensoriais, Marcial não só reforça a crítica moral e social nos seus epigramas, como convida os leitores a experienciarem o mundo sensorial do império romano.
Este trabalho investiga ainda de que forma a preferência de Marcial pelo género epigramático, enraizada no quotidiano e na corporeidade, desafia a hierarquia dos valores literários e sensoriais estabelecidos pela filosofia antiga. Por fim, os epigramas de Marcial testemunham o poder expressivo e crítico dos sentidos, oferecendo uma visão privilegiada e única da dinâmica social, cultural e literária da Roma Antiga.
This paper examines Martial's innovative use of the senses of smell and taste in his epigrams, revealing how he transcends the limitations of the written word by inviting readers to interact with his work on a visceral level. By associating specific odors and flavors with social status, morality, and individual character, Martial constructs a sensory map of Roman society. The analysis explores how Martial employs a range of techniques, from the evocation of foul odors to represent immorality and low social status to the satirical use of coprophagy to condemn the excesses of Roman elites. Through these sensory experiences, Martial not only reinforces the moral and social critiques central to his epigrams but also invites readers to inhabit the sensory world of imperial Rome. Furthermore, the paper investigates how Martial's use of the senses aligns with his preference for the epigram as a genre rooted in the everyday and the corporeal, challenging the hierarchy of literary and sensory values established by ancient philosophy. Ultimately, Martial's epigrams demonstrate the power of the olfactory and gustatory senses as vehicles for expression and critique, offering a unique and insightful window into the social, cultural, and literary dynamics of ancient Rome.
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