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Resumen de Proposta de micro-análise multimodal de interação face a face: um estudo exploratório

Ana Paula da Fonseca Lopes

  • Resumo A comunicação humana é um processo que envolve uma elevada complexidade. Quando interagimos, transmitimos mensagens através do que dizemos – a fala – mas também através dos movimentos cinésicos que executamos aquando dessa interação. Todo o nosso corpo intervém no processo comunicativo e, quando se pretende analisar de forma completa e pormenorizada uma interação face a face, para uma interpretação mais correta e próxima da intenção do falante da mensagem real que foi transmitida, dever-se-á ter em conta as diferentes modalidades que participam nesse mesmo processo. Por outras palavras, deve sempre ter-se em conta o que foi dito, a forma como foi dito e os movimentos que foram executados ao dizê-lo (Poyatos, 1994, I: 15), adotando uma perspetiva multimodal de análise. Estas diferentes modalidades da comunicação – a fala e os movimentos do corpo – participam de igual forma e com igual importância na transmissão de uma mensagem em contexto de interação face a face. Por conseguinte, torna-se vital incluí-las numa possível análise de uma interação desta natureza. Ignorar alguma destas modalidades transforma, assim, esta numa análise empobrecida e incompleta (Merinero, 1996: 272).

    Os Estudos do Gesto – uma área da Linguística que investiga, entre outros aspetos, os movimentos do corpo, com particular destaque para os gestos, em contexto de interação face a face – destacam a importância destes movimentos numa análise interacional. Vários autores dentro desta área, bem como de áreas adjacentes como a Psicologia, a Etnografia, a Etnologia, a Antropologia, entre outras, têm estudado a relação entre estes movimentos e outros conceitos igualmente importantes no contexto de um processo comunicativo de transmissão de mensagem.

    Ao longo das últimas décadas, vários têm sido os estudos realizados que relacionam os gestos e os restantes movimentos cinésicos com a produção de enunciados verbais. Dentro destes estudos, têm sido analisadas questões como as funções de cada tipo de gesto e de outras partes do corpo em interação, a relação destes movimentos com a fala, a relação entre movimentos cinésicos e o pensamento, o modo como os gestos podem representar imagens concetuais, realidades abstratas ou concretas, emoções, empatia, atitudes e comportamentos (Kendon, 2004; McNeill, 1992; de Jorio, 2007; Duranti, 1997; Kita, 2003).

    Foram já elaboradas sistematizações das principais funções dos gestos (Ekman e Friesen, 1969; Kendon, 2004; 2013; McNeill, 1992), em que foram definidos diferentes tipos de gestos e agrupados de acordo com a sua função específica no processo comunicativo. Percebeu-se que existem gestos que substituem a fala, que representam, conforme afirmado, realidades e/ou conceitos concretos e abstratos, que podem servir de janela para a mente (possibilitando uma “visualização” do pensamento do falante), podem também organizar o discurso, marcar o ritmo de um discurso, entre muitas outras funções. Por vezes, a mensagem que um gesto transmite não foi, voluntária ou involuntariamente, verbalizada pelo falante. Deste modo, e numa possível análise dessa interação em particular, pode ser possível interpretar o que esse falante tinha em mente quando transmitiu a dita mensagem e, consequentemente, ter acesso a informação que pode ser mais ou menos importante, dependendo do contexto.

    Desde muito cedo na história mundial que vários autores se aperceberam da importância e relevo dos gestos (e de outros movimentos do corpo) no contexto de uma interação face a face e, mais recentemente, vários têm sido então os estudos realizados tendo como objeto principal de análise este movimento em particular. Uma análise de uma interação face a face que englobe todas as diferentes modalidades de interação – uma análise multimodal, portanto – permite a quem a executa retirar muito mais informação acerca do que foi efetivamente transmitido do que uma análise em que se estuda parcialmente aquele processo comunicativo em causa. Possibilita, de igual forma, um entendimento da mensagem mais eficaz e próximo da real intenção do falante. Desta forma, torna-se mais possível evitar mal-entendidos e interpretações erradas de uma mensagem que, dependendo do contexto em causa, pode ter consequências mais ou menos gravosas.

    Estas situações de mal-entendidos ou interpretações erradas de uma mensagem podem ocorrer em contextos de interação face a face intra ou interculturais. Se, no caso de uma interação ocorrer num contexto intracultural, em que os falantes em causa partilham, em princípio, a mesma língua, as mesmas crenças, os mesmos preconceitos e as mesmas expectativas, uma interpretação errada de uma mensagem pode acontecer – quer porque o que foi verbalizado não foi devidamente entendido pelo(s) interlocutor(es), quer porque talvez o que foi transmitido através dos movimentos cinésicos não foi tido em conta pelos falantes – a probabilidade destes mal-entendidos acontecer aumenta de forma considerável num contexto de interação intercultural. Aqui, os interactantes não partilham a mesma língua e toda a circunstância de vida de cada um deles não possui aspetos comuns, pois a cultura de onde provêm difere em muitos aspetos. Na grande maioria das vezes, as pessoas não estão despertas para as diferenças culturais existentes entre os indivíduos, muito menos para o facto de, entre culturas distintas, os comportamentos serem, por vezes, abissalmente variados e, por conseguinte, sentirem dificuldade em interpretar de forma objetiva e imparcial a mensagem transmitida pelo outro. Todos estes componentes – fala, movimentos cinésicos, emoções, raízes culturais, preconceitos, expectativas, postura, entre outros – são elementos que não devem ser ignorados aquando da necessidade de uma análise de uma interação face a face. Porque quando transmitimos algo a alguém, todos estes elementos têm um papel a desempenhar e uma função específica que não deverá ser colocada de parte.

    Uma análise completa do processo comunicativo, tendo em conta todos os elementos acima mencionados, pode ser aplicada em qualquer contexto em que ocorra uma interação face a face. Por vezes, pode ser importante analisar uma entrevista ou um debate político, um discurso de um líder, a palestra de um diretor de uma empresa ou ainda o interrogatório dirigido a um suspeito de um crime ou a um arguido em tribunal. Por vezes, perceber a verdade de uma mensagem pode revelar-se vital para evitar um mau julgamento ou uma decisão errada. Porque importa transmitir mensagens e que estas sejam corretamente interpretadas por quem as recebe.

    Em Portugal, tal como acontece noutros países, poucas são as situações em que interações face a face são analisadas, sobretudo para fins de investigação. Porém, se tal acontecesse, a probabilidade de um maior apuramento da verdade aumentaria de forma considerável. No caso particular das interações que ocorrem em contextos forenses – seja num interrogatório criminal, seja em contexto de julgamento em tribunal – não existem registos completos das mesmas que possam, caso se revele necessário, permitir uma análise multimodal da mensagem que foi transmitida. As mais das vezes, procede-se a um registo áudio das interações – por vezes, transcrito para papel por indivíduos sem qualquer formação para o fazer – sendo apenas anotado de forma simples o que foi verbalizado pelos falantes. Ora, toda a componente dos movimentos do corpo é expressamente ignorada perdendo-se, deste modo, dois terços da informação passada (Aghayeva, 2011).

    Além deste aspeto, é importante salientar o facto de, não poucas vezes, ser notória alguma parcialidade nas avaliações, opiniões e decisões sobre o que foi transmitido por um falante, independentemente do contexto em que ocorra a interação. Num cenário de um discurso político, por exemplo, alguém que o ouve pode interpretá-lo de modo parcial se não partilhar a mesma ideologia e crenças. A sua mente irá ativar todos os seus preconceitos, ideologias e pensamentos que defende e que o fazem distanciar-se do discurso proferido pelo político. Esta atitude, ainda que possa ocorrer de forma inconsciente, vai despoletar um determinado conjunto de perceções e ideias que farão, quase indubitavelmente, aquele indivíduo não votar, por exemplo, no partido político do indivíduo que discursa. Por seu turno, num contexto forense, um investigador criminal ou um juiz são indivíduos com uma circunstância de vida própria, com determinadas crenças, ideologias, pensamentos, expectativas e preconceitos. Todos nós, enquanto seres humanos, inevitavelmente assim somos. Mais uma vez, ainda que inconscientemente, se algum destes indivíduos tiver de interrogar ou julgar outrem que seja proveniente de uma determinada classe ou grupo social com historial de alguma turbulência social e cultural, torna-se quase certo que, na sua mente, todos os estereótipos serão ativados e que a sua opinião será toldada por eles.

    Deste modo, e se se pretender que uma mensagem – independentemente do seu contexto de interação – seja correta e fielmente interpretada, de maneira a que não se coloquem entraves a decisões mais acertadas e justas, parece ser importante que, dependendo dos contextos e das situações, uma análise completa do processo comunicativo em interação, imparcial, credível e cientificamente sustentada, possa ser efetuada.

    Tendo como base este cenário, em que, por um lado, se defende que o processo comunicativo deve ser analisado, quando necessário, englobando a estrutura tripartida que compõe o mesmo – o que dizemos, a forma como dizemos e os movimentos que executamos ao dizê-lo (Poyatos, 1994, I: 15) – e, por outro, que não muitas vezes se tomam decisões erradas nos mais diversos contextos de interação face a face, mas sobretudo nos contextos forenses, pareceu relevante realizar a presente investigação.

    De cariz exploratório, o presente trabalho analisa comparativamente, tanto numa perspetiva quantitativa como sob o ponto de vista qualitativo , estudos de caso realizados com o intuito de tentar perceber diferenças na quantidade e no tipo de gestos (e de outros movimentos cinésicos) executados por falantes nativos do português europeu e por falantes nativos do inglês britânico. Aprofundou-se uma metodologia de micro-análise dos gestos e dos restantes movimentos cinésicos, com base noutras já existentes (Galhano-Rodrigues, 2007; Zagar-Galvão, 2015), para que pudesse ser utilizada como base científica e sustentada na análise de situações de interação face a face que ocorram nos mais diversos contextos. Esta metodologia de micro-análise assenta em pressupostos teóricos desenvolvidos em estudos realizados no âmbito da área dos Estudos do Gesto, nomeadamente da autoria de Kendon (2004; 2013) e de McNeill (1992), bem como, de igual forma, nalgumas áreas da Linguística Aplicada, como sendo a Análise do Discurso, a Análise Conversacional, a Linguística Interacional e, até certo ponto, também a Linguística Forense. Outras áreas do saber são, oportuna e seletivamente, destacadas pelo seu relevo no presente estudo.

    O trabalho está dividido em três partes: na primeira parte, são elencadas questões investigadas na área dos Estudos do Gesto, tal como matérias próximas das Ciências da Cultura e das Ciências Cognitivas. Partindo-se de um breve resumo da história dos Estudos do Gesto, desde a sua génese até aos tempos presentes, passando em revista os seus principais autores e investigações realizadas, aborda-se, em seguida, os principais pontos, conceitos e ideias defendidos no âmbito desta área. A par desta vertente, são também abordados outros aspetos que relacionam o processo comunicativo com a cultura e com a cognição, numa tentativa de relacionar todas as vertentes que englobam o complexo processo comunicativo.

    Na segunda parte, são analisados os estudos de caso realizados no âmbito do presente trabalho, e é proposta a metodologia de micro-análise dos gestos e dos restantes movimentos cinésicos executados em interação face a face para aplicação na análise concreta de contextos em que ocorra uma interação desta natureza. Nestes estudos de caso são comparados contextos de interação intra e interculturais, analisando-se contextos em que falantes nativos do português europeu e falantes nativos do inglês britânico interagem tanto em interação em língua materna (L1) como em língua estrangeira (L2), numa tentativa de perceber se existem diferenças entre estes dois tipos de interação, entre estes dois grupos.

    Numa primeira experiência, comparou-se quantitativamente os gestos executados pelos dois grupos de falantes. Numa segunda experiência, foi desenvolvida e aprofundada a metodologia proposta neste trabalho, tendo sido analisados de modo qualitativo os dados recolhidos. Foram elaboradas tabelas e gráficos que esquematizam os resultados obtidos e foram tecidos comentários, devidamente sustentados cientificamente, sobre as observações que foram retiradas. Foi também realizada uma experiência, dentro desta, em que se questionou a falantes nativos do português europeu e a falantes nativos do inglês britânico que analisassem os vídeos referentes aos grupo oposto e também ao mesmo grupo, sem acesso à parte sonora, e que comentassem sobre as suas opiniões relativas àquelas interações.

    No âmbito da primeira experiência realizada, a análise quantitativa destes estudos de caso revelou que o número de gestos executado pelos falantes nativos do português europeu é consideravelmente superior àquele executado pelos falantes nativos do inglês britânico.

    Qualitativamente, e no contexto da segunda experiência, foi possível perceber que o modo como cada grupo de falantes interpreta a forma de interagir do outro diverge da realidade. Embora, naquelas interações em particular, não tivesse ocorrido nenhum momento de particular tensão ou irritabilidade, foi possível percecionar os mesmos por parte dos falantes nativos do inglês britânico relativo ao grupo dos falantes nativos do português europeu. Além disto, e a partir da análise dos diferentes tipos de gestos executados por cada falante em análise, foi possível concluir que se verifica a existência de transmissão de mensagens e de conteúdos semânticos através da execução gestual, mensagens e conteúdos estes que não haviam sido verbalizados pelos falantes. Também, que alguns gestos revelam o pensamento do falante, outros que marcam o ritmo do discurso e que também o organizam. Foi, de igual forma, possível perceber que os falantes nativos do inglês britânico executam a grande maioria dos seus gestos num espaço físico próximo do seu tronco – menor amplitude de execução gestual – o que não se verifica nos falantes nativos do português europeu.

    Foi igualmente realizada uma análise para tentar efetuar uma ligação entre o tipo de gestos executados e o ato de fala evidenciado. Além disto, e sempre que oportuno, foram analisados alguns momentos de silêncio, com o intuito de perceber qual a sua carga semântica naquele contexto de interação em particular.

    Na terceira parte do trabalho, e dado que, entre os mais diversos contextos em que esta análise poderia ser aplicada na prática (políticos, organizacionais, institucionais, entre outros), se tem intenção de a aplicar na análise de interações face a face que ocorram em contextos forenses , são selecionadas e abordadas matérias próximas dos contextos e das Ciências Forenses consideradas de relevo no âmbito do presente trabalho – a Psicologia e a Linguística Forenses –, bem como também matérias próximas das áreas da Linguística Aplicada acima mencionadas. Outros aspetos como as emoções de que interroga e julga foram igualmente abordados. No âmbito destes contextos, foram também elaborados inquéritos para serem respondidos por profissionais da área do Direito, nomeadamente juízes e investigadores criminais da Polícia Judiciária. O objetivo prendeu-se com a tentativa de se percecionar qual a formação – se alguma – que estes profissionais possuíam na análise dos movimentos do corpo em interação e se haveria porventura abertura por parte deles relativamente à existência de peritos linguistas que pudessem colaborar com o sistema judicial na análise de interações face a face. Foi apurado que, na sua grande maioria, estes profissionais não possuem a formação mencionada e que percecionam de forma positiva a dita colaboração.

    Em termos globais, foi possível apurar o seguinte: Através da execução de gestos, os falantes podem transmitir informação que não haviam verbalizado. Desta forma, pode ter-se acesso a mensagens e/ou a imagens mentais que os falantes poderiam querer, voluntária ou involuntariamente, omitir, e que podem revelar-se importantes consoante o contexto da interação – funcionando os gestos, assim, como janela para a mente (McNeill, 1992; de Ruiter, 2007). Além disto, os momentos de pausa e de hesitação podem revelar que um falante está a organizar o seu pensamento ou, se estiver a interagir em L2, que necessita de mais tempo do que necessitaria em L1 para escolher elementos lexicais ou estruturar sintaticamente o seu discurso.

    Os aspetos comuns partilhados pelos falantes de uma interação (cultura, pressupostos, expectativas, crenças, ideologias, educação…) podem contribuir para que uma interação seja mais natural e espontânea e que a transmissão da mensagem seja mais eficaz e mais facilmente compreendida.

    Além dos gestos referenciais já mencionados, observou-se o que se segue relativamente aos restantes tipos de gestos analisados: Os gestos estruturantes, sendo movimentos executados pelas mãos/braços e, por vezes também, pela cabeça, que marcam o ritmo da fala, podem ser observados como ocorrendo numa aparente ligação com características prosódicas às quais o falante atribui um destaque através da execução dos mencionados gestos (Kendon, 2013: 16). Kendon (2004) analisou gestos – “precision grip” e “finger-bunch-open-hand”, por exemplo – executados por napolitanos numa coordenação semântica com o conteúdo da fala. Os gestos de “precision grip”, em particular, foram observados como ocorrendo simultaneamente a um conteúdo do discurso que o falante considera de importância vital, pretendendo destacar algo que considera específico e importante naquele contexto de interação (Kendon, 2004: 237-247).

    Os gestos emblemáticos (Ekman e Friesen, 1969) ou “quotable gestures” (Kendon, 1992) – gestos com um elevado grau de convencionalidade, cuja execução pressupõe uma intenção semântica, ou seja, existe o objetivo por parte do falante de criar significado ao executar um gesto emblemático – são gestos marcadamente culturais com significados próprios enraizados e percebidos nas diversas comunidades em que são executados (Kendon, 2013: 12).

    Os gestos designados por butterworth (McNeill, 1992) – executados quando o falante tenta recordar-se de uma palavra, de uma ideia ou ainda de uma expressão (McNeill, 1992: 76-77) – podem, deste modo, revelar aspetos importantes sobre o pensamento e a sua estruturação, bem como o estado emocional de um indivíduo.

    Os gestos descritivos podem tornar mais específico o significado da fala que co-ocorre com o gesto, podem representar a forma de um objeto, de uma pessoa ou de um lugar, bem como as suas características espaciais e de tamanho (Kendon, 2004: 185-194).

    A forma como os gestos deíticos (Kendon, 2004: 199 e segs.) – gestos em que o falante, através das mãos e/ou do(s) dedo(s), aponta para um ou mais referentes – são executados varia, como foi possível observar, e essas variações podem transmitir informações sobre o modo como o falante encara e se relaciona com o referente desse gesto de apontar (Kendon, 2004: 199).

    Os gestos adaptadores (Ekman e Friesen, 1969) são movimentos aprendidos ao longo do desenvolvimento social e cognitivo do indivíduo usados para satisfazer necessidades do corpo ou realizar ações quer para gerir estados emotivos quer para desenvolver ou manter contactos pessoais (Ekman e Friesen, 1969: 84), categoria de gestos esta onde se inserem os gestos de auto-adaptação. Trata-se, pois, de gestos importantes para a interpretação de estados emotivos, uma vez que podem revelar informação de relevo sobre o falante (sobretudo, os gestos de auto-adaptação) (Galhano-Rodrigues, 2007: 123).

    É importante mencionar que, pese embora se tenha como intenção aplicar a análise desenvolvida em contextos forenses de interação face a face, não foi possível, devido a limitações de natureza legal, realizar a recolha de dados nestes mesmos contextos. Foram feitos vários contactos no sentido de solicitar autorização para esta recolha junto de tribunais e de esquadras da polícia. No entanto, ainda não é legalmente possível registar em vídeo interações face a face neste tipo de contextos. Assim sendo, esta é uma das limitações deste estudo, que não tornou possível uma análise real de contextos forenses reais. Não obstante esta situação, os vídeos realizados permitem retirar ilações que podem ser passíveis de aplicação em qualquer contexto de interação, estando o contexto forense incluído.

    Relativamente a aplicações e desenvolvimentos futuros do presente trabalho, poder-se-iam realizar estudos em que fosse aprofundada a relação entre a Psicologia e a Linguística Forenses e os Estudos do Gesto, em que outras matérias como as emoções, os preconceitos, as expectativas, as memórias e a sua relação com os movimentos cinésicos pudessem ser analisadas com mais pormenor.

    De igual forma, poderia ter potencialmente interesse a criação de uma base dados de gestos e das suas interpretações circunscrita ao contexto linguístico e cultural português, podendo servir como base de referência científica para a sustentação de opiniões de peritos nos mais diversos âmbitos e esferas.

    Relacionado com este ponto anterior, e tendo em conta uma aplicação mais direta, rápida e tecnologicamente sustentada da presente investigação, poderia ainda haver interesse no desenvolvimento de um programa de software/aplicação que reunisse a informação recolhida no presente estudo e que servisse de plataforma informática de análise de interações face a face.

    Defendendo-se que, futuramente, deveria passar a ser possível um registo em vídeo de interações face a face, particularmente as ocorridas em contextos forenses, fica em aberto o desenvolvimento e aprofundamento futuros deste processo micro-analítico de movimentos cinésicos e a sua possível aplicação tanto nos contextos forenses como noutros contextos interacionais, numa tentativa de contribuir para uma comunicação face a face mais eficaz. Porque importa que aquilo que transmitimos seja, independentemente do seu contexto de produção, interpretado da forma mais próxima da realidade possível.


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