Um Estudo Comparativo do Trabalho dos Profissionais de Assistência a Mulheres Agredidas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21814/rlec.3919

Palavras-chave:

trabalho social, riscos ocupacionais, autocuidado

Resumo

O serviço de atendimento a mulheres vítimas de violência constitui um espaço de risco para a manifestação da síndrome de burnout e transtorno de estresse pós-traumático secundário, ocasionado pela escuta de experiências traumáticas. Por isso, este artigo tem por finalidade descrever as condições de trabalho, investigar a experiência de atendimento a mulheres vítimas de violência e observar as práticas de autocuidado exercidas pelo grupo profissional em níveis pessoal, profissional, coletivo e institucional. O texto apresenta um estudo comparativo realizado no Brasil e na Espanha com 32 sujeitos. A análise dos dados oriundos do contexto brasileiro foi realizada com o Iramuteq, por meio da classificação hierárquica descendente, resultou em cinco classes, a saber: atendimento às mulheres vítimas de violência; conflitos, violências e atividade profissional; autores de práticas de assédio e condições de trabalho; autocuidado pessoal; gerenciando os obstáculos no ambiente de trabalho. Os resultados coletados com as profissionais espanholas também foram submetidos à mesma análise de dados, resultando em cinco classes: trajetória, desempenho profissional e condições de trabalho; atendimento a mulheres vítimas de violência e formas de autocuidado; afirmações sobre conflito e violência; autocuidado pessoal; formas de assédio e conflito. A análise comparativa apontou para semelhanças no tocante à experiência subjetiva e um distanciamento nas características de autocuidado empreendidas por profissionais brasileiras e espanholas. Refletir sobre a dinâmica institucional destes ambientes e a influência dos fatores socioculturais no autocuidado são propostas deste estudo.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografias Autor

Karine David Andrade Santos, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, Brasil

Karine David Andrade Santos é psicodramatista, doutoranda e mestra em psicologia pela Universidade Federal de Sergipe.

Joilson Pereira da Silva, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, Brasil

Joilson Pereira da Silva é doutor em psicologia pela Universidade Complutense de Madri, Espanha, e pós-doutor em psicologia pela Universidade Autônima de Barcelona, Espanha. Ele é mestre e graduado em psicologia (Universidade Federal da Paraíba), graduado em estudos sociais e geografia (Universidade Estadual da Paraíba).

Alicia Perez Tarrés, Departamento de Psicología Social, Facultad de Psicología, Universitat Autònoma de Barcelona, Barcelona, Espanha

Alicia Perez Tarrés é graduada em psicologia pela Universidade de Barcelona, mestra em psicologia geral da saúde e doutora em pessoa e sociedade no mundo contemporâneo pela Universidade Autônoma de Barcelona. As áreas de interesse são: sociedade, cultura, violência, poder, gênero e autocuidado.

Leonor María Cantera Espinosa, Departamento de Psicología Social, Facultad de Psicología, Universitat Autònoma de Barcelona, Barcelona, Espanha

Leonor María Cantera Espinosa é doutora em psicologia (Universidade de Porto Rico) e doutora em psicologia social com prêmio extraordinário pela Universidade Autônoma de Barcelona (2004), mestra em psicologia comunitária (Universidade de Porto Rico) e em autoconhecimento, sexualidade, relações humanas (Universidad de Alcalá).

Referências

Bandeira, M. (2014). Violência de gênero: A construção de um campo teórico e de investigação. Sociedade e Estado, 29, 449–469. https://doi.org/10.1590/S0102-69922014000200008 DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-69922014000200008

Baum, N. (2016). Secondary traumatization in mental health professionals: A systematic review of gender findings. Trauma, Violence, & Abuse, 17(2), 221–235. https://doi.org/10.1177/1524838015584357 DOI: https://doi.org/10.1177/1524838015584357

Brady, P. Q. (2017). Crimes against caring: Exploring the risk of secondary traumatic stress, burnout, and compassion satisfaction among child exploitation investigators. Journal of Police and Criminal Psychology, 32(4), 305–318. https://doi.org/10.1007/s11896-016-9223-8 DOI: https://doi.org/10.1007/s11896-016-9223-8

Braga, N. L., Araújo, N. M., & Maciel, R. H. (2019). Condições do trabalho da mulher: Uma revisão integrativa da literatura brasileira. Revista Psicologia-Teoria e Prática, 21(2), 232–251. https://doi.org/10.5935/1980-6906/psicologia.v21n2p232-251 DOI: https://doi.org/10.5935/1980-6906/psicologia.v21n2p232-251

Camargo, B. V., & Justo, A. M. (2013). Tutorial para uso do software de análise textual IRAMUTEQ. LACCOS. http://www.iramuteq.org/documentation/fichiers/tutoriel-en-portugais

Campos, E. P. (2016). Quem cuida do cuidador? Uma proposta para profissionais de saúde (2nd ed.). Pontocom.

Cantera, L. M., & Cantera, F. M. (2014). El auto-cuidado activo y su importancia para la psicología comunitaria. Psicoperspectivas, 13(2), 88–97. https://doi.org/10.5027/psicoperspectivas-Vol13-Issue2-fulltext-406 DOI: https://doi.org/10.5027/psicoperspectivas-Vol13-Issue2-fulltext-406

Caringi, J. C., Hardiman, E. R., Weldon, P., Fletcher, S., Devlin, M., & Stanick, C. (2017). Secondary traumatic stress and licensed clinical social workers. Traumatology, 23(2), 186–195. https://doi.org/10.1037/trm0000061 DOI: https://doi.org/10.1037/trm0000061

Cayir, E., Spencer, M., Billings, D., Messias, D. K. H., Robillard, A., & Cunningham, T. (2020). "The only way we'll be successful": Organizational factors that influence psychosocial well-being and self-care among advocates working to address gender-based violence. Journal of Interpersonal Violence, 36(23–24), 11327–11355. https://doi.org/10.1177/0886260519897340 DOI: https://doi.org/10.1177/0886260519897340

Convention on the Elimination of All Forms of Discrimination against Women, December 18, 1979, https://www.ohchr.org/en/instruments-mechanisms/instruments/convention-elimination-all-forms-discrimination-against-women

Correa, O. T. (2015). El autocuidado una habilidad para vivir. Hacia la Promocion de la Salud, 8(1), 38–50. https://revistasojs.ucaldas.edu.co/index.php/hacialapromociondelasalud/article/view/1870

Dutton, M. A., Dahlgren, S., Franco-Rahman, M., Martinez, M., Serrano, A., & Mete, M. (2017). A holistic healing arts model for counselors, advocates, and lawyers serving trauma survivors: Joyful Heart Foundation Retreat. Traumatology, 23(2), 143–152. https://psycnet.apa.org/doi/10.1037/trm0000109 DOI: https://doi.org/10.1037/trm0000109

Dworkin, E. R., Sorell, N. R., & Allen, N. E. (2016). Individual-and setting-level correlates of secondary traumatic stress in rape crisis center staff. Journal of Interpersonal Violence, 31(4), 743–752. https://doi.org/10.1177/0886260514556111 DOI: https://doi.org/10.1177/0886260514556111

Freitas, M. E. de, Heloani, R., & Barreto, M. (2008). Assédio moral no trabalho. Cengage Learning. DOI: https://doi.org/10.1590/S0034-75902008000200012

Gomà-Rodríguez, I., Cantera, L. M., & Silva, J. P. D. (2018). Autocuidado de los profesionales que trabajan en la erradicacion de la violencia de pareja. Psicoperspectivas, 17(1), 1–10. https://doi.org/10.5027/psicoperspectivas-Vol17-Issue1-fulltext-1058 DOI: https://doi.org/10.5027/psicoperspectivas-Vol17-Issue1-fulltext-1058

Holguín, M. R., & Velázquez, T. (Eds.). (2015). Trabajo con personas afectadas por violencia política: Salud mental comunitaria y consejería. Pontificia Universidad Católica del Perú.

Ifrach, E. R., & Miller, A. (2016). Social action art therapy as an intervention for compassion fatigue. The Arts in Psychotherapy, 50, 34–39. https://doi.org/10.1016/j.aip.2016.05.009 DOI: https://doi.org/10.1016/j.aip.2016.05.009

Jirek, S. L. (2020). Ineffective organizational responses to workers' secondary traumatic stress: A case study of the effects of an unhealthy organizational culture. Human Service Organizations: Management, Leadership & Governance, 44(3), 210–228. https://doi.org/10.1080/23303131.2020.1722302 DOI: https://doi.org/10.1080/23303131.2020.1722302

Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, Diário Oficial da União (2006). http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm

Ley Orgánica 1/2004, de 28 de diciembre, Boletín Oficial del Estado, núm. 313, de 29/12/2004 (2004). https://www.boe.es/eli/es/lo/2004/12/28/1/con

Mendonça, R. F. (2016). Reconhecimento, desigualdades e capitalismo. In L. F. Miguel (Ed.), Desigualdades e democracia (pp. 289–320). Unesp.

O'Keefe, T., & Courtois, A. (2019). 'Not one of the family': Gender and precarious work in the neoliberal university. Gender, Work & Organization, 26(4), 463–479. https://doi.org/10.1111/gwao.12346 DOI: https://doi.org/10.1111/gwao.12346

Oliveira, R. M. K. de. (2015). Pra não perder a alma: O cuidado aos cuidadores (3rd ed.). Sinodal.

Pasinato, W. (2011). Identificando entraves na articulação dos serviços de atendimento às mulheres vítimas de violência doméstica e familiar em cinco capitais. Observe/UNIFEM. http://www.observe.ufba.br/_ARQ/relatorio_final_redes%5B1%5D%20(1).pdf

Posluns, K., & Gall, T. L. (2019). Dear mental health practitioners, take care of yourselves: A literature review on self-care. International Journal for the Advancement of Counselling, 42(1), 1–20. https://doi.org/10.1007/s10447-019-09382-w DOI: https://doi.org/10.1007/s10447-019-09382-w

Rocha, F., Rocha., M., & Rodrigues, S. (2010). Condições para aplicação da Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) nas delegacias especializadas de atendimento à mulher (DEAMs) e nos juizados de violência doméstica e familiar nas capitais e no distrito federal. Observe. http://www.observe.ufba.br/_ARQ/Relatorio%20apresent%20e%20DEAMs.pdf

Saffioti, H. (2011). Gênero, patriarcado e violência. Fundação Perseu Abramo.

Sansbury, B. S., Graves, K., & Scott, W. (2015). Managing traumatic stress responses among clinicians: Individual and organizational tools for self-care. Trauma, 17(2), 114–122. https://doi.org/10.1177%2F1460408614551978 DOI: https://doi.org/10.1177/1460408614551978

Secretaria Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres. (2011). Política nacional de enfrentamento à violência contra as mulheres. Secretaria Especial de Políticas para Mulheres. https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/entenda-a-violencia/pdfs/politica-nacional-de-enfrentamento-a-violencia-contra-as-mulheres

Sepúlveda, K. H., Maleš, P. J., & San Martín, M. M. (2014). Manual de orientación para la reflexividad y el autocuidado, dirigido a coordinadores de equipos psicosociales de los programas del sistema de protección social chile solidario. http://www.ministeriodesarrollosocial.gob.cl/btca/txtcompleto/chs/12471430384ba8c2343ecf9.pdf

Skovholt, T. M., & Trotter-Mathison, M. (2016). The resilient practitioner: Burnout and compassion fatigue prevention and self-care strategies for the helping professions. Routledge. DOI: https://doi.org/10.4324/9781315737447

Souza, M. A. R. D., Wall, M. L., Thuler, A. C. D. M. C., Lowen, I. M. V., & Peres, A. M. (2018). O uso do software IRAMUTEQ na análise de dados em pesquisas qualitativas. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 52, 1–18. https://doi.org/10.1590/S1980-220X2017015003353 DOI: https://doi.org/10.1590/s1980-220x2017015003353

Taylor, A. K., Gregory, A., Feder, G., & Williamson, E. (2018). 'We're all wounded healers': A qualitative study to explore the well‐being and needs of helpline workers supporting survivors of domestic violence and abuse. Health & Social Care in the Community, 27(4), 856–862. https://doi.org/10.1111/hsc.12699 DOI: https://doi.org/10.1111/hsc.12699

Velázquez, T., Rivera, M., & Custodio, E. (2015). El acompañamiento y el cuidado de los equipos en la psicología comunitaria: Un modelo teórico y práctico. Psicología, Conocimiento y Sociedad, 5(2), 307–334. https://revista.psico.edu.uy/index.php/revpsicologia/article/view/275

Vieira, E. M., & Hasse, M. (2017). Percepções dos profissionais de uma rede intersetorial sobre o atendimento a mulheres em situação de violência. Interface-Comunicação, Saúde, Educação, 21, 52–62. https://doi.org/10.1590/1807-57622015.0357 DOI: https://doi.org/10.1590/1807-57622015.0357

Publicado

2022-12-22

Como Citar

David Andrade Santos, K., Pereira da Silva, J., Perez Tarrés, A., & María Cantera Espinosa, L. (2022). Um Estudo Comparativo do Trabalho dos Profissionais de Assistência a Mulheres Agredidas. Revista Lusófona De Estudos Culturais, 9(2), 149–164. https://doi.org/10.21814/rlec.3919